40 anos atrás, quando o Quarto Doutor (interpretado por Tom Baker) diagnosticou seu cão robô K-9 com um caso de “laringite robótica”, a mitologia de Doctor Who foi modesta e casualmente mudada para sempre. Os whovians sabem que as regras da regeneração dos Senhores do Tempo podem ser arriscadas, mas uma pequena informação muito específica – a ideia de que um Gallifreyano poderia escolher como seria seu próximo corpo – teve origem no episódio de 1979, “Destiny of the Daleks“. Eis por que uma pequena cena alterou a série para sempre.
Em setembro de 1979, quando “Destiny of the Daleks” foi ao ar pela primeira vez, a Guerra do Tempo ainda não havia acontecido e aparições de outros Senhores do Tempo (ou Senhoras) eram bastante comuns em Doctor Who.
Na 17ª temporada da série clássica, a companion do Doutor era uma colega Gallifreyana chamada Romana. Originalmente, Romana foi interpretada pela atriz Mary Tamm no episódio “The Ribos Operation” da temporada 16 . Então, na 17ª temporada, Romana foi interpretada por Lalla Ward, porque Romana havia se regenerado. Agora, nesse ponto da série, o Doutor havia se regenerado três vezes, mas um companheiro que também era um Senhor do Tempo ainda não. Mas essa não é a parte estranha (no contexto de um programa sobre a regeneração, isso é).
Mary Tamm
A razão pela qual a regeneração de Romana foi tão única é que a nova atriz, Lalla Ward, já havia desempenhado um papel diferente na série. No episódio da 16ª temporada, “The Armageddon Factor“, a primeira Romana (Mary Tamm) e o Doutor encontraram uma personagem chamada Princesa Astra, que também foi interpretada por Ward. Então, quando Ward foi apresentada como a nova versão de Romana na 17ª temporada, foi necessária uma explicação na tela.
Na cena, o Doutor está apavorado que Romana de repente se pareça com alguém que ambos conheceram recentemente. “Mas você não pode usar esse corpo!” ele protesta. “Você não pode usar cópias de corpos!”
Romana recém-regenerada insiste que isso não importa. Ela gosta da aparência da princesa Astra e diz que provavelmente não vão voltar para o planeta natal da princesa, Atrios.
Lalla Ward
Embora
Terry Nation tenha recebido crédito por escrever sobre esse episódio, um
comentário em DVD sugere que o editor de roteiro Douglas Adams fez uma enorme reescrita nele. De fato, pode-se argumentar que toda a atitude de Romana em relação à regeneração tem uma irreverência e humor que poderiam facilmente ter sido arrancados das páginas dos famosos e hilariantes livros de ficção científica de Douglas Adams. Afinal, até onde sabíamos, Romana nem precisava se regenerar, ela simplesmente fez, porque podia.
Mas quem se importa? Por que essa pequena cena importa? Bem, antes desse momento, Doctor Who nunca demonstrara que os galifreyanos poderiam controlar o resultado de sua regeneração, muito menos optar por duplicar os corpos exatos das pessoas que conheceram. De fato, a maioria das regenerações do Doutor parece ser totalmente aleatória, mas nos últimos anos isso mudou significativamente. Em“The Night of the Doctor” (o episódio prequel de “The Day of the Doctor“), descobrimos que o oitavo Doutor (Paul McGann) foi capaz de escolher qual a forma que sua próxima encarnação assumiria, daí o Doutor da Guerra (Jon Hurt) com uma personalidade mais severa. E, talvez o mais relevante, a cena de Romana em “Destiny of the Daleks” explica toda a existência de Peter Capaldi em Doctor Who.
Quando o 11º Doutor (Matt Smith) se tornou o 12º Doutor (Peter Capaldi) em “The Time of the Doctor“, a maioria dos fãs estava ciente de que Capaldi havia desempenhado não um, mas dois papéis separados no universo Who antes. No episódio “The Fires of Pompeii“, Capaldi interpretou um romano chamado Caecilius. E no spinoff Torchwood, no episódio “Children of Earth“, Capaldi interpretou um político chamado John Frobisher. Alguns fãs pensaram que isso nunca seria explicado, mas em 2013, o então showrunner Steven Moffat garantiu a todos que haveria uma explicação. E, até 2015, na 9ª temporada da série atual, essa explicação foi esclarecida. Como Romana, o Doutor escolheu se parecer com alguém que ele conhecera antes.
No episódio da 9ª temporada, “The Girl Who Died“, o 12º Doutor finalmente se lembra por que ele se parece com Peter Capaldi, ou mais especificamente, com Caecilius. Depois de fazer um flashback de “The Fires of Pompeii“, o 12º Doutor percebe que subconscientemente decidiu se regenerar em alguém que parecia Caecilius para se lembrar, basicamente, de não ser um idiota. “Eu sei onde consegui esse rosto e sei para que serve!” ele diz. “Para me lembrar. Para me manter firme. Eu sou o Doutor! E eu salvo as pessoas!”
É uma cena fantástica, emocionante, triunfante e cheia de tudo que tornou a versão do personagem de Capaldi tão incrível. Está muito longe da conversa sarcástica entre Romana e o quarto Doutor tantos anos antes, mas há uma linha direta entre a habilidade descrita por Romana em “Destiny of the Daleks” e a revelação de Capaldi tantos anos depois. No mundo real, essa é apenas uma maneira complicada da ficção científica explicar por que os atores podem desempenhar mais de um papel em uma aventura no tempo e espaço, mas dentro do cânone da série ela se torna mais profunda.
Afinal, em “The Day of The Doctor“, o 11º Doutor (Matt Smith) encontra um homem misterioso chamado Curador, interpretado por ninguém menos que o ator do quarto Doutor, Tom Baker. Na cena, o Curador sugere que, no futuro, o Doutor possa revisitar alguns de seus rostos anteriores, mas “talvez apenas os antigos favoritos”. Se isso for verdade, no futuro distante de Doctor Who, o Doutor poderá realizar o que Romana conseguiu fazer em três segundos, 40 anos atrás.
Vi no SyFy
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Uma whovian que nunca esquece de levar sua toalha na TARDIS e nunca dispensa uma xícara de chá.
Ainda acha que vai encontrar a pergunta fundamental sobre A Vida, o Universo e Tudo o Mais em alguma viagem no tempo ou no espaço.
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