Hoje vou falar sobre um dos primeiros figurinos de filme que eu corri para pesquisar a produção assim que terminei de ver, isso aconteceu muito antes da faculdade de moda e de eu imaginar que figurinos seria algo que eu iria curtir tanto um dia. Vou falar sobre o trabalho da figurinista Eiko Ishioka  para o filme A Cela (The Cell), produzido em 2000.

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Trata-se de um thriller, meio ficção científica, em que a personagem principal consegue entrar no inconsciente de seus pacientes, o que a leva a participar de uma investigação policial que busca penetrar a complicada mente de um serial killer.

Não, espera. Acho que a sinopse pode explicar melhor a trama:

Um agente do FBI convence uma psicóloga, que é adepta de uma nova tecnologia experimental, a entrar na mente de uma serial killer esquizofrênico que entrou em coma após sequestrar uma de suas vítimas.

O elenco tem Jennifer Lopez como atriz principal, o detetive do FBI é interpretado por Vince Vaughn e o serial killer é brilhantemente interpretado por Vincent D’Onofrio.

Se o filme é bom? Ele tem seus altos e baixos, mas exatamente como seria de se esperar (eu não traria ele para cá se isso fosse diferente!), o figurino fala em alto volume em quase todas as cenas, e salvou o filme de muitas críticas, além de garantir para Eiko e April Napier indicações para os prêmios de melhor figurino no Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films (também conhecido como Saturn Awards) em 2001 e no Phoenix Film Critics Society Awards, também em 2001. Ainda em 2001 os maquiadores do filme, Michèle Burke e Edouard F. Henriques, receberam um Oscar de melhor maquiagem e vocês vão ver em algumas imagens desse post (fiz uns screenshots para tentar mostrar melhor alguns detalhes) que o trabalho que eles fizeram foi realmente surreal!

O diretor desse filme, Tarsem Singh, é conhecido por criar filmes visualmente impactantes, assistam também o filme Dublê de anjo (“The Fall”, de 2006) e verão bem o que eu estou querendo dizer (esse filme é INCRÍVEL e o figurino também é da Eiko).

Voltando para A Cela, a jornada da personagem Catherine Deane, a psicóloga, pela mente de um psicopata foi extremamente bem elaborada e o figurino foi um dos principais elementos para que o espírito do personagem Carl Stargher, o serial killer, fosse traduzido de forma tão densa e doentia durante todo o filme.

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Eiko criou um visual bizarro com uma pitada de erotismo que se encaixou perfeitamente com os mundos fantásticos de fantasia que Tarsem criou. Para uma das cenas ela criou para Jennifer Lopez um dos looks mais memoráveis que ela usou no filme, para representar a prisão da personagem na mente do serial killer a figurinista criou uma máscara de metal para a atriz.

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“Ela basicamente se torna um sex toy, então ela tinha que parecer erótica e desconfortável ao mesmo tempo”, Ishioka disse em entrevista ao Ottawa Citizen em 2000. “Eu fiz para ela um vestido transparente, uma grande peruca preta e vermelha e um colar rígido feito de plástico. Jennifer me perguntou se eu não poderia fazer o colar ficar um pouco mais confortável, e eu disse que não – “Não, você deve parecer estar sendo torturada”.

É sabido que quando Tarsem terminou de desenvolver os conceitos para esse filme ele já queria trabalhar com Eiko, ele enviou o roteiro para ela assim que ele ficou pronto e ela, mesmo achando que o conteúdo não era inovador, sabia que Tarsem quebrava fronteiras para criar produções com visual expressivo, então queria ver até onde essa colaboração iria dar e aceitou prontamente.

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Para desenvolver esse figurino primeiro Eiko analisou os personagens, e após absorver completamente a visão de Tarsem para eles, começou o trabalho do design.

Antes de começar o processo de criação Eiko não usava referências visuais externas, ela preferia experimentar com ideias próprias primeiro. Quando ela finalmente chegou a um conceito ela pode contar com a ajuda de Nico Soultanakis, um do produtor associado que colaborou imensamente para a criação deste figurino.

Como o mundo para o qual esse figurino foi criado era quase todo de fantasia, a figurinista procurou não se limitar a períodos da arte ou da história, menos ainda a referências geográficas.

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A única exigência de Tarsem para o figurino foi que as roupas tivessem a mesma opulência que os figurinos de ópera costumam ter, e isso veio a calhar já que Eiko tinha acabado de fazer o figurino para a ópera The ring of Nibelung.

De todos os designs só houve um que foi questionado por Tarsem, a armadura que Eiko criou para uma das últimas cenas de Jennifer Lopez, esse look foi redesenhado 3 vezes antes de chegar no visual final que tem as áreas do pescoço e peito abertas, uma saia translúcida, cor de vinho, que cai por cima de uma peça de couro.

Para Eiko o resultado mais satisfatório foi o visual Stargher King, que para ela não foi finalizado apenas com o seu design mas também com a colaboração do ator Vincent D’Onofrio, até porque esse look jamais seria o mesmo sem ele.

Além do figurino para o filme Drácula de Bram Stoker, que lhe rendeu um Oscar em 1992, e essas colaborações geniais com Tarsem, Eiko também fez figurinos para o Cirque du Soleil e para uma versão moderna da Branca de Neve nos cinemas chamada “Espelho, espelho meu”, com Julia Roberts como protagonista.

Eiko Ishioka faleceu em janeiro de 2012 por conta de um câncer pancreático.

Preparem-se mochileiros, ainda falarei muito sobre os trabalhos dela por aqui!

 

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