A Tecnologia dos Gravetos – Douglas Adams
Sem muitas delongas, essa é a segunda parte do primeiro capítulo do livro inédito em português de Douglas Adams intitulado Last Chance to See. Para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ler a primeira parte, clique aqui.
A Tecnologia dos Gravetos – Part II
Ele era alto, moreno e lacônico, e tinha um leve tique nervoso. Explicou que costumava ser apenas alto, moreno e lacônico, mas que os eventos dos últimos dias tinham sido muito para ele. Pelo menos tentou explicar isso. Ele havia perdido a voz, murmurava, devido à quantidade de gritos recentes.
“Quase lhe enviei um telegrama pedindo para você não vir. A coisa toda é um pesadelo. Estou aqui há cinco dias e ainda espero alguma coisa dar certo. O Embaixador em Bruxelas me prometeu que o Ministério da Agricultura colocaria a nossa disposição dois Land Rovers e um helicóptero. Parece que tudo o que eles tem é uma lambreta, e ela não funciona”.
“O Embaixador em Bruxelas também me assegurou que poderíamos dirigir direto para o norte, mas a rodovia repentinamente ficou interditada pois está sendo reconstruída pelos Chineses, só que não deveríamos saber disso. E o que exatamente quer dizer “repentinamente” eu não sei, pois eles já estão nessa há dez anos”.
“De qualquer modo, acho que consegui resolver algumas coisas, mas temos que nos apressar”, continuou. “O avião para a floresta sai em duas horas e precisamos estar nele. Temos apenas tempo de dispensar seu excesso de bagagem no hotel se formos rápidos. Quero dizer, você não vai precisar de tudo isso, vai?” Olhou ansioso para a pilha de malas que eu estava trazendo, e então com grande alarme para as maletas de câmeras Nikon, lentes e tripés que nosso fotógrafo, Alain le Garsmeur, que estava comigo no avião, carregava para o microônibus.
“Ah, me lembrei de algo”, Mark disse, “descobri que provavelmente não poderemos sair com nenhum rolo de filme do país”.
Subi meio aéreo no microônibus. Depois de treze horas no avião de Paris, eu estava cansado, desorientado e ansioso por um banho, me barbear, uma boa noite de sono, e então talvez uma manhã suave tentando gradualmente encontrar Madagascar no mapa junto a um bule de chá. Tentei me recompor. De repente, não tinha a menor ideia do que eu, um escritor de aventuras de ficção científica humorística, estava fazendo ali. Sentei piscando ao brilho do sol tropical e imaginando que diabos Mark esperava de mim. Ele corria de um lado para o outro, dando gorjeta para um porteiro, pacientemente explicando a outro porteiro que não tínhamos carregado nenhuma de nossas malas, conduzindo negociações profundas com o motorista, e gradualmente colocando uma certa ordem em meio aquele caos.
Madagascar, pensei. Aye-aye, pensei. Uma lêmure a beira da extinção. Partindo para a floresta em duas horas. Eu precisava, desesperadamente, soar brilhante e inteligente.
“É… você acha que realmente vamos conseguir ver esse animal?” Perguntei a Mark quando ele subiu e bateu a porta. Ele sorriu para mim.
“Bem, o Embaixador de Bruxelas disse que não temos a ‘menor esperança’, então talvez tenhamos ‘uma menor chance’. Bem vindo”, continuou conforme começávamos nosso ziguizague vagaroso pelas estradas esburacadas em direção à cidade, “a Madagascar”.
Leave a Comment