Analisando o figurino: De volta para o futuro II

Nessa semana Marty McFly finalmente vai comprar o almanaque de jogos e mudar o curso de sua vida, ainda que só por alguns instantes. E a pergunta que não quer calar é “Cadê nosso Hoverboard e nossas roupas que se ajustam sozinhas?”.

Bom, não posso dizer muito sobre em que pé anda o desenvolvimento do Hoverboard, mas achei que o figurino espetacular da segunda parte da franquia ‘De volta para o futuro’ seria perfeito para a a coluna O Cabide Geek, cês não acham?

Nos 30 anos desde o lançamento da franquia algumas imagens se tornaram icônicas, como o rastro de fogo do DeLorean ou Marty tocando Johnny B. Goode no baile da escola. Mas nada foi tão marcante quantas as roupas de um futuro que parecia tão distante criadas pela figurinista Joanna Johnston.

Notas da produção:

“O que nós tentamos fazer foi tornar o ano 2015 divertido de um ponto de vista pop. Nosso olhar é que as facetas da sociedade que se tornaram nostalgia para nós – coisas como moda, esportes, publicidade e coisas do gênero, teriam suas contrapartidas no futuro. Um problema comum em descrever o futuro é que não dá para se pode identificar com algo que nunca existiu. Se você inventa novos  dispositivos, você corre o risco do público dizer ‘Eu não consigo me identificar com com esse aparelho estranho porque eu não sei de onde isso surgiu.’ Para evitar que isso acontecesse, nós voltamos ao passado para ver como certas coisas evoluíram até o presente. O que nós apresentamos nessa visão do futuro são dispositivos e situações que são extensões da nossa cultura, e nós tentamos nos divertir com eles.”

Enquanto Rick Carter criava a arquitetura da Hill Valley do futuro, a figurinista Joanna Johnston trabalhava nas roupas de seus habitantes. Ainda que a visão do futuro do diretor Bob Zemeckis fosse otimista, Johnston achou a proposta de trabalho “aterrorizadora – porque em minha carreira eu só fiz recriações do passado ou do presente, e o conceito de Bob não tinha base em outros trabalhos. Nós iríamos começar do zero.”

“No futuro as roupas são realmente tamanho único, porque você pode vesti-las e com um toque de um botão a roupa se ajusta ao seu corpo. O cadarço dos tênis se amarram sozinhos, e se você se molha, como acontece com o Marty, existe um dispositivo que automaticamente seca a roupa enquanto ela ainda está no seu corpo.”

Evitando o tradicional look metálico futurista, Johnston usou cores vibrantes, mas não fluorescentes, e uma vasta seleção de tecidos para criar as roupas para o elenco e 150 figurantes. A figurinista trabalhou junto com o produtor Rick Carter para ter certeza que o figurino complementava o set. O público tem que acreditar que as pessoas entram e saem desses prédios, que pertencem a paisagem.

Prevendo o futuro:

O animador John Bell foi chamado para criar o design de alguns dos detalhes que fariam parte desse conceito de futuro, o que incluiu uma parceria com a figurinista para a criação de alguns looks. Particularmente no figurino de Griff Tannen, o neto de Biff, e sua gangue. O figurino para a gangue de 2015 tinha que parecer intimidador e peculiar, mas coerente com a paleta criada pelo departamento de arte. Essa foi uma tarefa que exigiu muita atenção, tanto que a criação desses looks começou logo que o animador e a figurinista foram contratados.

A visão de Zemeckis incluia maior funcionalidade tecnológica que se estendia para as roupas. Ele queria que o design do figurino fosse original sem deixar de ser prático, foi daí que veio a ideia de que as lojas do futuro não teriam roupas de múltiplos tamanhos. O resultado foi a tão afamada jaqueta retrátil e o Nike que se amarra sozinho. A figurinista fez a jaqueta de borracha com base em uma outra ideia que o diretor teve: “Faça com que você não precise lavar ou mandar para a lavanderia, que seja algo que possa ser limpo com uma mangueirada.”

Para o tênis, Johnston trabalhou em parceria com a Nike. Frank Marshall, o produtor executivo dos filmes, se tornou amigo de Pamela McConnell, da empresa de calçados, quando Michael J. Fox foi contratado para o primeiro filme e a empresa contribuiu gratuitamente com os tênis, que já tinham sido descontinuados, usados para compor o look de Marty.

A figurinista não se empolgou com a parceria e não entendia a obsessão dos americanos com os tênis. Ela foi relutante até que o diretor apresentou mais um dos seus conceitos futuristas. Ele explicou que os tênis não sairiam de moda no futuro, na verdade eles se tornariam mais femininos para que fossem divulgados para mulheres, ele até teve a previsão de que no futuro os tênis teriam saltos. Foi assim que a inspiração para o tênis mostrado no filme surgiu, na sequência ela marcou uma reunião com a Nike e criou esse e outros modelos futurísticos.

Agora que vocês já sabem tudo sobre a origem desse figurino genial e inesquecível, eu já posso dizer que, pelo amor de Sir Isaac H. Newton, vai ter tênis que se amarra sozinho, sim!

A Nike confirmou no começo do ano o lançamento de uma nova linha de Nike MAGs (o tênis usado no filme). Tinker Hatfield o designer que criou os tênis em 1989 disse que eles se iluminaram e se amarraram sozinhos. O lançamento deve coincidir com a comemoração do 21/10/2015. No momento desse anúncio os tênis ainda estavam em desenvolvimento, mas eles ainda tinham o ano todo para completar o projeto e disponibilizá-los para venda.

Os tênis serão uma versão atualizada dos Nike MAGs lançados em edição limitada em 2011 que tiveram 1500 pares leiloados no Ebay e os lucros foram doados para a Michael J. Fox Foundation.

Vamos torcer para ser verdade, né?

*imagens: reprodução