Trabalhar com games é possível: Conheça a trajetória do brasileiro Thiago Klafke, artista 3D da Blizzard Entertainment
O Brasileiro Thiago Klafke é artista 3D da Blizzard Entertainment: uma das maiores produtoras de jogos do mundo, a empresa tem no portfólio games de peso como: World Of Warcraft, Heroes Of The Storm e Overwatch. Confira o bate-papo que o Obrigado Pelos Peixes fez com ele sobre: carreira, a vida fora do Brasil e ainda, os conselhos que Klafke dá aos apaixonados por jogos que pretendem trabalhar nessa área.
1) Quando se sentiu atraído pelo mundo dos games?
Quando moleque passava o dia todo desenhando e jogando Super Nintendo. Videogames representavam algo a mais do que qualquer outra coisa que eu tinha contato na época. Aos olhos dos adultos aquilo não passava de passatempo, algo negativo e estúpido e até acreditavam que videogames estragavam a TV. Mas para nós, que jogamos, eles representam algo muito maior. Sempre gostei de criar mundos na minha cabeça e ao olhar pela TV era como se eu visse outra realidade, tão real quanto a nossa, porém que só existe na imaginação. Assim como ler um bom livro e ter uma versão da história que é só sua, bons videogames também são capazes de proporcionar isso.
A vontade de trabalhar com games veio bem cedo porém naquela época isso era algo completamente alienígena… Não conseguia imaginar como era possível criar algo digital e colocar num cartucho. Como não havia internet para saber que era possível não botava muito fé na ideia. Acho que o dia que eu tomei a decisão foi quando me perguntaram na escola o que eu queria fazer quando crescer. Respondi que queria ser astronauta ou desenhista, e ao ficar sabendo que para ser astronauta seria necessário estudar muito matemática acabei optando por ser artista.
Eu diria que a minha carreira, ou pelo menos a preparação para ela, começou em meados de 2001, quando descobri ser possível modificar jogos existentes e comecei a criar meus próprios mapas para Counter-Strike.
2) Você cursou alguma universidade?
Na época em que consegui o meu primeiro emprego na indústria, cursava faculdade de Design, mas não cheguei a terminá-lo, pois precisei me mudar para São Paulo.
3) Quando surgiu a oportunidade de trabalhar com games?
A primeira oportunidade foi com o extinto estúdio Southlogic Studios, em Porto Alegre. A história de como isso aconteceu é bem interessante. Na época em que eu comecei a fazer mapas mais apresentáveis, montei um portfólio bem simples e enviei à Southlogic, pois até onde eu sabia era a única empresa no Brasil que fazia jogos 3D. A primeira resposta foi de que não estavam precisando de artistas, mas que poderiam entrar em contato algum dia, o que só aconteceu mais de um ano depois! Enviaram-me um email perguntando se eu sabia modelar em 3D Studio Max e se tinha interesse de fazer um freelance, que eu obviamente aceitei na hora. Só havia um detalhe: Eu mal sabia usar o 3D Studio Max e sabia muito pouco da parte técnica de criação de “assets” para produção. A experiência foi excelente e tenho muito a agradecer o pessoal de lá, pois me ajudaram muito nesta fase crucial sendo super atenciosos e pacientes com os meus “assets” zuados.
4) Como surgiu a chance de trabalhar fora do Brasil?
A oportunidade simplesmente surgiu. Coloquei meu portfólio online e postava bastante em fóruns, até que um dia fui convidado para fazer um art test, depois uma entrevista e acabou dando certo. Eu gosto muito de uma frase, “a sorte é quando a preparação se encontra com a oportunidade”. No meu caso foi bem isso mesmo.
5) No seu ponto de vista, o mercado de games pode ser considerado um futuro rentável?
Bom, rentável vai depender de vários fatores como, por exemplo, onde a pessoa mora, se está preparada o suficiente, se está em uma empresa boa, etc… Mas se a pergunta é, se é uma profissão “segura” para o futuro, aí fica mais complicado de responder porque tecnicamente, não existe nenhuma profissão segura.
Vivemos num período de grandes mudanças e daqui para frente profissões mais tradicionais serão substituídas diariamente por automação. Essa é uma tendência muito evidente e ao invés de irmos contra a maré e queimarmos os robôs em praça pública ou culpar os políticos pelo desemprego consequente disso, devemos entender esse novo mundo, e aproveitar as novas oportunidades que surgem. Ao mesmo tempo em que empregos tradicionais serão substituídos, outras oportunidades surgirão. Vendo por esse lado essa revolução está nos libertando, nos possibilitando focar em ramos que até há algumas décadas atrás pouquíssimas pessoas conseguiam levar uma vida confortável. Um exemplo bem legal é o fenômeno do Patreon (patreon.com), no qual artistas são pagos mensalmente pela comunidade apenas para fazerem arte. Se o seu lance é desenhar “furries” faça isso o dia todo com muito amor, até o dia em que você ficar bom, possuir bastante seguidores e eles te pagarão para você ficar em casa desenhando “furries”. Isso nunca foi possível antes.
Bom, eu dei essa volta inteira para dizer que acho bem difícil nos próximos 20 ou 30 anos robôs serem inteligentes ou sensíveis o suficientes para substituírem o toque criativo humano. Então acredito que profissões mais criativas são relativamente seguras comparadas a outras. 🙂
6) Como foram os seus passos até chegar à Blizzard? (Empresas que passou, projetos que realizou)
Como eu disse anteriormente, passei muito tempo criando mapas. Aí comecei a participar de uns “mods” com a galera dos fóruns e fazendo contatos na indústria. Fiz freelances para duas empresas (Southlogic e New World Interactive) e antes da Blizzard trabalhei na Ubisoft em São Paulo.
7) Nesse momento, o que você acha da sua carreira, você se sente realizado? Quais são seus planos futuros para a sua vida profissional?
Acho que nenhum artista deve se sentir completamente realizado em algum ponto de sua carreira, pois há sempre algo a mais para aprender ou melhorar. No momento eu tenho a sorte de poder trabalhar com pessoas extremamente talentosas com quem aprendo coisas que nunca aprenderia em outros lugares.
Para o futuro tenho várias ideias que gostaria de desenvolver no meu tempo livre e o meu objetivo principal é criar mundos cada vez mais imersivos, coerentes e interessantes.
8) Quais são suas atividades na Blizzard?
Recentemente eu ingressei o time de Overwatch, para trabalhar na criação de cenários. Antes de Overwatch trabalhei em StarCraft II Legacy of the Void também criando ambientes 3D. Isso envolve modelagem 3D, criação de texturas, terrenos, iluminação e efeitos.
Lembrando que o Overwatch está com inscrições para o beta abertas em playoverwatch.com 🙂
9) Qual o conselho que você dá para as pessoas que pensam em seguir os mesmos passos que você?
Vai fundo e acredite sinceramente que é possível. É mais fácil do que parece, mas nada vem da noite para o dia 🙂
10) Em sua opinião, o jovem que hoje pensa em trabalhar com games deve: investir em programação ou em design? Quais são as áreas de conhecimento essenciais para trabalhar com isso?
O lance é trabalhar no que você sente mais afinidade, só assim para ficar bom em algo. Se você curte matemática e desafios lógicos, vire um programador. Se gosta de desenhar e criar, vire artista ou designer.
O conhecimento necessário é específico para cada área. O conselho que eu sempre dou é entrar nos sites dos estúdios que te interessam e ver quais os requerimentos para uma vaga de associate ou junior, e fazer um curso ou aprender as skills necessários sozinho. No caso da Blizzard, todas as vagas disponíveis estão disponíveis em blizzard.com/jobs.
Confira mais projetos de Thiago Klafke em: www.thiagoklafke.com
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